sábado, 8 de março de 2014

 Valongo - Luiz Alexandre S.C Santos



Enterrado nas páginas da história, esquecido nas memórias do nosso país, estava um cais.
Com o renascimento e crescimento da nossa cidade, o progresso esbarrou nesse pedaço triste da nossa história, porém rico de cultura e de importância social sobre a cultura negra e sua chegada no Brasil.

     Imagem mostrando antiga geografia e contorno litoral da cidade. 

 O Cais


Esse cais foi porta de entrada para a escravidão no Brasil, passou cerca de 1 milhão de africanos, passou 168 anos soterrado, redescoberto durante obras da revitalização da Região do Porto do Rio de Janeiro.

    Ilustração do Valongo em Rugendas.

A região do Valongo era desabitada na época e o acesso era difícil, com isso, o aumento do tráfego ficava mais escondido do resto da cidade. Sua Construção dada de 1811, com o objetivo de retirar do terreiro do paço, atual praça XV, o desembarque e o comércio de africanos escravizados logo após a vinda do Príncipe regente Dom João VI e da corte portuguesa ao Brasil. Além de abrigar um cemitério de negros que chegavam mortos, ou muito doentes da viagem, nas imediações chamado de Cemitério dos pretos novos.
A área deixa de funcionar como ponto de entrada de escravos por volta de 1831, quando leis contra a escravidão começam a ser assinadas. Nessa época, o tráfico passa a ser clandestino e acontece no período noturno.

Em 1843, foi feito um aterro de 60 centímetros de espessura precisamente sobre o Cais do Valongo, para a construção de um novo ancoradouro para receber a imperatriz Teresa Cristina, que se casaria com dom Pedro II, que receberia o Nome de Cais da Imperatriz, e toda a história seria ocultada, sendo novamente aterrado na administração do então prefeito Pereira Passos na reforma urbanística no início do século XX.




O ancoradouro traz com ele memórias da escravidão no país e várias culturas que ali perdiam sua liberdade e raízes. Atualmente faz parte do Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana. Inaugurado em novembro de 2011 pela Prefeitura do Rio, o roteiro inclui, além do cais, o Largo do Depósito, o Jardim Suspenso do Valongo, a Pedra do Sal, o Cemitério dos Pretos Novos e o Centro Cultural José Bonifácio.

    Ossos, Búzios, pulseiras, cachimbos, pedras e amuletos descobertos durante a escavação  arqueológica, resgatando memórias e objetos pessoais dos negros.

    Cais do Valongo recuperado no centro do Rio de Janeiro


O Cais do Valongo foi lembrado há muitos anos atrás pela academia do Samba, Acadêmicos do Salgueiro, que com sua equipe de artistas de belas artes e historiadores resgatavam partes ocultas e esquecidas da cultura negra e os heróis não oficiais que ajudaram a construir esse país.

E o samba dizia... lá em 1976, composto por Djalma Sabiá.

Lá no seio d'África vivia
Em plena selva o fim de sua monarquia.
Terminou o guerreiro
No navio negreiro,
Lugar do seu lazer feliz.
Veio cativo povoar nosso país,
Seguiu do cais do Valongo,
No Rio de Janeiro,
Com suas tribos chegando.
Foi o chão cultivando
Sob o céu brasileiro.
Nações Haussá, Gegê e Nagô,
Negra Mina e Ângela,
Gente escrava de Sinhô.
Foram muitas suas lutas
Para integração,
Inda hoje
Desenvolveu
Desenvolvendo esta Nação,
Sua cultura, suas músicas e danças
Reúnem aqui suas lembranças.
O negro assim alcançou
A sua libertação
E seus costumes, abraçou
Nossa civilização.
Ô-ô-ô-ô, quando o tumbeiro chegou,
Ô-ô-ô-ô, o negro se libertou.




Vídeo produzido pelo IPHAN – Arqueóloga explicando a história de cada peça 
desenterrada no local.

Um comentário:

  1. Excelente pesquisa texto e audiovisual sobre o Valongo. Luis, colocar todas as fontes - texto, imagem, vídeo - em respeito ao trabalho dos pesquisadores e para servir de referência a outros que se interessarem.

    ResponderExcluir