domingo, 30 de março de 2014

Produção cultural - Era Vargas Por Sabrina Mouza

"A produção artística cultural engajada ficou a cargo do Ministro da Educação, Gustavo Capanema, responsável pela orientação cultural do período. A política cultural do varguismo foi coerente com a concepção de Estado que orientou a atuação do governante. Em nome de valores políticos, ideológicos, religiosos e morais, os representantes do regime justificavam a proibição ou valorização de produtos culturais... A cultura foi entendida como suporte da política e nessa perspectiva, cultura, política e propaganda se mesclaram. "(1)
Num período que se destacou pela crise da economia agrário-exportadora e transição para uma economia industrial, pelo declínio das oligarquias e ascensão de outras classes sociais e o fortalecimento de propostas autoritárias, em termos culturais pode-se dizer que o período foi muito rico e diversificado.
O Regime varguista concebeu e organizou a cultura com os olhos voltados para as experiências européias nazi-fascistas da Alemanha e da Itália, onde a cultura era entendida como suporte da política. O processo foi acompanhado principalmente: pelo surgimento de cursos superiores; pela expansão das instituições culturais públicas e pelo surto editorial.
Não se pode divorciar o processo do capitalismo da produção cultural, da mercantilização dos bens culturais. Neste período ocorreu a criação, embora incipiente de uma indústria cultural. Também não se pode dissociar o processo da burocracia que surgiu entre 1930 e 1945, do corporativismo que se impôs.
As transformações culturais provocaram três movimentos do mercado de trabalho das carreiras intelectuais:
  • surto do mercado do livro – com um novo público consumidor formado por setores urbanos, as classes médias e trabalhadores e empregados dos setores privados que estavam crescendo com a industrialização e a urbanização. Teve início a propaganda e havia relativa autonomia em relação ao Estado, a Igreja e aos Partidos Políticos;
  • surgimento do serviço público como difusão da cultura - com o Estado começando a patrocinar a cultura o serviço público foi de vital importância para sua organização;
  • movimento de tarefas intelectuais exercidas por professores e editores.
Sergio Micelli fez uma sociologia das profissões e concluiu que a maioria dos intelectuais do Estado Novo era originária de parentes pobres das oligarquias, fato que já ocorria de certa forma na República Velha. A maioria destes intelectuais se dedicava aos gêneros menores de literatura que na época era o romance. O gênero maior era a poesia. Graciliano Ramos era parente pobre de uma oligarquia. Os parentes mais prósperos e os intelectuais pertencentes a oligarquias que ainda não estavam decadentes procuravam profissões mais rentáveis como a de juristas.
O mercado do livro e a formação de um grupo de romancistas profissionais tiveram seu crescimento entre os anos 30 e 40. Os editores antes eram importadores de livros, mas passaram a abrir suas editoras e editar os livros, alguns empresários de importação e de exportação também se dedicaram à abertura de editoras.
Surgiram grandes Editoras como: a José Olympio do Rio de Janeiro, A Companhia Editora Nacional de São Paulo que depois se transferiu para o Rio de Janeiro, a Ariel e a Livraria Globo do Rio Grande do Sul. Monteiro Lobato fundou uma Editora e também foi sócio da Companhia Editora Nacional, ganhava dinheiro com o livro, mas não vivia de ganhar direitos autorais.
Este sucesso estava ligado ao processo geral de substituição de importações não era um processo isolado e foi bastante ampliado depois da II Guerra. Este processo também foi influenciado pelo nacionalismo, que gerou certo afrouxamento dos laços de dependência cultural dando reforço à identidade nacional.
Grandes quantidades de obras foram traduzidas ampliando o mercado de consumidores, que tinham mais facilidades de ler em português. Além das traduções existiam as adaptações de livros infanto-juvenis que também possuíam um grande público.
Mudanças no sistema de ensino como a Reforma Capanema, novos cursos técnicos e novas disciplinas também aumentaram o mercado consumidor. O aumento dos gêneros eruditos servia para aumentar o debate sobre o tipo de Estado que se queira construir. O Romance foi uma das fontes deste debate ideológico acrescido das obras de direito.
O Projeto Educativo foi baseado em dois níveis de estratégia: o do Ministério da Educação, dirigido por Gustavo Capanema, Ministro da Educação voltado para a cultura erudita e o do Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP encabeçado por Lourival Fontes, responsável por orientar as manifestações da cultura popular.
O Governo de Getúlio patrocinou o cinema, a música, o teatro e as artes plásticas, mas não de maneira idêntica. Os diferentes campos artísticos foram organizados e regulamentados, como tudo no Estado Novo. Foi uma época de muito nacionalismo, com destaque para a construção da "cultura brasileira". Mesmo as pessoas que eram contra o Governo de Getúlio apoiavam suas ações em prol da cultura.
No teatro já antes de 1930 se representava no Brasil, mas a partir daí ele apresentou grande progresso começando com o teatrólogo carioca Joraci Camargo que escreveu a peça Deus lhe Pague, especialmente para a interpretação do grande artista Procópio Ferreira, inspirado na história de um mendigo de São Paulo que tinha uma vida dupla sendo mendigo e também milionário.
Em 1937, por sugestão de Gustavo Capanema, Getúlio criou o Serviço Nacional de Teatro – SNT, sob a direção de Abadie Faria Rosa. O principal objetivo do teatro era a diversão e o entretenimento. A primeira companhia de teatro do SNT foi a "Comédia Brasileira" estreando com Guerras de Alecrim e da Manjerona, de Antônio José da Silva com montagem de Sadi Cabral.
Em 1938, Pascoal Carlos Magno fundou o Teatro do Estudante sob a direção de Itália Fausto que teve como primeira apresentação a peça Romeu e Julieta.
Os autores nacionais mais apreciados foram: Joraci Camargo; Paulo Magalhães; Oduvaldo Viana; Abadie Faria Rosa; Raimundo Magalhães Júnior; Viriato Correia e Marques Porto.
No início dos anos de 1940, a Companhia "Os Comediantes" criou o moderno teatro brasileiro, com a participação do polonês Zibgniew Ziembinski, que veio para o Brasil por causa da Guerra. Nelson Rodrigues se consagrou como dramaturgo com Vestido de Noiva, em 1941, encenado por esta companhia. Juntamente com mais vinte e oito atores, o papel de Alaíde foi interpretado pela atriz Evangelina Guinle da Rocha Miranda, pertencente a uma família milionária, usando o pseudônimo de Lina Gray.
A indústria cinematográfica que era deficitária até 1930, com o apoio do Governo pôde equilibrar-se. Alguns cineastas queriam que o Estado fosse o grande mecenas do cinema brasileiro para que ele pudesse competir como cinema americano. Getúlio decretou, em 1932, a Lei da Obrigatoriedade da exibição de filmes nacionais.
Nesta época, a produção cinematográfica brasileira concentrava-se no Rio de Janeiro, com os estúdios da Cinédia e Brasil-Vita Filmes, que em 1932 lançou sua primeira produção: Onde a Terra Acabou, adaptação do romance Senhora de José de Alencar, que foi dirigido pelo paulista Otávio Gabus Mendes e em 1934 apresentava Favela dos meus Amores que consagrou Armando Louzada que interpretava um malandro tuberculoso e o cantor Sílvio Caldas, além de introduzir no cinema o sentido popular.
Na Cinédia, Humberto Mauro dirigiu Ganga Bruta em 1933 e depois A Voz do Carnaval, que inaugurou o ciclo carnavalesco da indústria cinematográfica e marcou a estréia de Carmem Miranda, no cinema, teve ainda a participação do cantor Francisco Alves. Carmem Miranda atuou também em Alô, Alô, Carnaval em 1936, tendo direção de Wallace Downey e música da Lamartine Babo, este foi o maior sucesso do cinema brasileiro na época.
Em 1935 teve início a série de musicais do cinema carioca com Bonequinha de Seda, dirigido por Oduvaldo Viana, na Cinédia, com Gilda de Abreu no papel principal. Com o Estado Novo o Governo passou a financiar obras patrióticas, tendo destaque o filme O Descobrimento do Brasil de 1937 dirigido por Humberto Mauro com música de Villa-Lobos.
Em 1945 a Cinédia fez uma adaptação da obra de Aluísio Azevedo: O Cortiço, dirigido por Luís de Barros, autor de dezenas de filmes como: Samba em Berlim, de 1943 e Samba na Batucada, de 1944, comédias musicais sobre a II Guerra Mundial.
Coube ao Instituto Nacional de Cinema Educativo a tarefa de organizar e editar os filmes e documentários brasileiros. A Divisão de Cinema e Teatro do DIP ficou encarregada de realizar a censura prévia dos filmes e da produção do Cine Jornal Brasileiro, de exibição obrigatória. Os documentários cinematográficos mostravam as comemorações e festividades públicas, as realizações do Governo e os atos das autoridades. Havia concursos, com prêmios para os melhores documentários.
A música foi outra área na qual o Governo investiu, incentivando que se fizessem letras adequadas aos valores pregados pelo regime como: exaltação do trabalho e da nacionalidade. Heitor Villa-Lobos foi a grande personalidade musical associada ao Estado Novo. Desenvolveu a educação musical artística através do canto coral popular e se tornaram famosos os seus corais reunindo milhares de pessoas cantando hinos patrióticos pelo Brasil afora. No Rio de Janeiro tinha destaque as concentrações feitas no Campo do Vasco da Gama.
A pintura também foi utilizada como instrumento de formação cultural. O prédio do Ministério da Educação na Esplanada do Castelo no Rio de Janeiro, construído por ordem de Gustavo Capanema, possui esplêndidos murais de Cândido Portinari expressando a ideologia do regime: evolução econômica, a vida popular e os tipos nacionais com o gaúcho, o sertanejo e o jangadeiro.
A arquitetura foi utilizada para documentar a grandiosidade do poder nos moldes da Alemanha e da Itália. Com este intuito no Rio de Janeiro foram construídos, durante os anos de 1930, vários edifícios públicos como: o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e o Ministério da Fazenda, na Esplanada do Castelo; o Ministério da Guerra e a Central do Brasil na região da Central do Brasil.
Em outubro de 1931, foi inaugurada a Estátua do Cristo Redentor, no Alto do Morro do Corcovado, no Rio de Janeiro.
A arquitetura brasileira procurou novos rumos na gestão de Gustavo Capanema, quando Lúcio Costa foi nomeado Diretor da Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, e a arquitetura deixou de ser cópia para ser criação. Em 1942, Oscar Niemeyer deu início à construção do Conjunto da Pampulha em Belo Horizonte, marco de renovação arquitetônica.
No Rio de Janeiro em 1944, foi inaugurado o Aeroporto Santos Dumont e foi construído o Palácio da Cultura, onde funcionou o Ministério de Educação e Cultura, inaugurado em 1945, dois marcos importantes da arquitetura moderna da cidade

Um comentário:

  1. ok, boa pesquisa, só coloque a fonte do texto e corrija a cor da fonte que está variando entre cinza e preto.

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