sexta-feira, 23 de maio de 2014

Todos os olhos - Tom Zé ( CAMILA GLEICE ROCHA )



Não podemos começar a falar da música sem antes falar da capa do álbum, uma ideia irreverente, do então amigo de Tom Zé, Décio Pignatari, que em plena ditadura sugeriu pregar uma peça na censura que assolava o Brasil fotografando algo que parecia ser um “outro olho” (um ânus para ser mais exato), mas na verdade era apenas uma bola de gude na boca de uma modelo. A capa de Todos Os Olhos é tema de inflamadas discussões até hoje.

    Capa do Álbum Todos os Olhos de Tom Zé; ano de lançamento: 1973.

                               


Sobre a música...
Um samba meio esquisito, com violões de 12 cordas e uma letra tomzeana. "De vez em quando todos os olhos se voltam prá mim / De lá de dentro da escuridão / Esperando e querendo apanhar / Querendo que eu bata / Querendo que eu seja um Deus."
Como pano de fundo, há o conflituoso cenário político da época marcado pela repressão militar do governo brasileiro.
Apesar do seu trabalho realizado na década de 1970, tanto no aspecto criativo e de cunho contestador, Tom Zé não se caracterizou por um grande sucesso de público e nem pelo fácil entendimento de suas experimentações musicais.
Todos os Olhos demonstrava ousadia e apresentava características experimentais que causavam estranhamento num primeiro contato com a obra, o distanciou dos meios de comunicação, mas o fez escutado pelos melhores ouvidos do país.
Neste ponto se discute duas formas interessantes de comportamento das gravadoras na época. Para alcançar objetivos lucrativos, as companhias optavam por produções musicais mais populares, de sucesso mais imediato. Entretanto, havia o nicho de consumo ligado a um público de “bom gosto”, as empresas fonográficas abriam espaço para artistas diferenciados em sua produção musical, gravadoras como a Continental, que lançou na época três álbuns de Tom Zé. Se não houvesse essa mentalidade por parte das gravadoras, artistas como Tom Zé, Walter Franco, Jards Macalé, que tinham pouco apelo popular, não teriam espaço para apresentar sua obra artística e crítica na época da Ditadura.



Todos os Olhos - Tom Zé


De vez em quando

todos os olhos se voltam pra mim,
de lá de dentro da escuridão,
esperando e querendo
que eu seja um herói.

Mas eu sou inocente,

eu sou inocente,
eu sou inocente.

De vez em quando

todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão
esperando e querendo
que eu saiba.

Mas eu não sei de nada,
eu não sei de ná,
eu não sei de ná.

De vez em quando

todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão
esperando que eu seja um deus
querendo apanhar, querendo que eu bata,
querendo que eu seja um Deus.

Mas eu não tenho chicote,

eu não tenho chicote,
eu não tenho chicó.

Mas eu sou até fraco,

eu sou até fraco,
eu sou até fraco.









Bibliografia


http://www.rbec.ect.ufrn.br/data/_uploaded/artigo/N3/RBEC_N3_A2.pdf

Artigo As inovações de Tom Zé na linguagem da canção popular dos anos 1970.

https://www.youtube.com/watch?v=QBTYAEqaF1E

http://letras.mus.br/tom-ze/164919/

http://musicaestranhaeboa.blogspot.com.br/2007/12/artista-tom-z-lbum-todos-os-olhos.html





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