(Imagem: Internet)
“O ano era 1968. Caetano Veloso,
expoente-mor da Tropicália,
brigava com o público no III Festival da Canção.
A reação da plateia ao seu "É Proibido Proibir" não foi das melhores, e a
revolta do baiano foi justamente por não visualizar sua mensagem recebida. Os
urros e vaias dos ouvintes impediam que o discurso anti-censura de Caetano
fosse concebido como objeto de protesto naqueles anos de chumbo.
A música brasileira
decididamente não era mais a mesma - além da leveza da Bossa Nova e todo o movimento da Jovem Guarda, as poesias
reacionárias do movimento tropicalista causaram desde então um ruído poderoso.
Os seus representantes - Gil, Caetano, Bethânia, Tom Zé,
Mutantes foram endeusados e amaldiçoados ao mesmo tempo, e
chegava a ser constante a quantidade de vaias e aplausos que paradoxalmente obtiam
em suas manifestações artísticas.
No mesmo 68, contudo, outra
música de Caetano, dessa vez composta em parceria com Gilberto Gil, conseguiu imprimir
um outro discurso, que, a despeito de ter sido no calor do auge da Tropicália,
ainda se faz oportuno a cada audição, nos dias de hoje. "Divino Maravilhoso" coroou o lançamento do disco de maior manifesto dos
Tropicalistas, o "Tropicália ou Panis Et Circenses",
no mesmo ano, com participações de Nara Leão, Gal Costa e dos Mutantes. Gal já vinha
construindo sua imagem de boa moça que cantava bossa sentada num banquinho -
Caetano lhe ofereceu a canção e perguntou como ela queria cantá-la: "de uma forma nova, explosiva, de uma outra maneira'. Gil se
comprometeu a fazer um arranjo à altura e a moça foi projetada para todo o Brasil em Novembro do mesmo ano, ao interpretá-la no Festival da Música Brasileira,
da TV Record. Causou uma estranheza
inicial no público - Gal estava incrível - agressiva e cantando de forma quase
irreconhecível, caprichando nos agudos e explorando sem limites toda
potencialidade de sua voz. Também houve uma ruptura total de sua imagem bem
comportada: polemizou com cabelo black power e colares bufantes, numa atmosfera
completamente hippie. Aos poucos, suavizado pelo primeiro impacto - o público
relaxou e começou a aplaudir a grandiosidade da apresentação. A mensagem era,
finalmente, transmitida e entendida - atenção para o palavrão, para a palavra
de ordem - tudo é perigoso, tudo é divino e maravilhoso. O jogo de paradoxos se
fez oportuno e eternizou uma das melhores músicas já produzidas na música
popular brasileira. E o referido episódio mostra que a maneira de se c(a)ontar
é tão importante quando o conteúdo...”
(Site: Entulho)
(Site: Entulho)
Atenção / Ao dobrar uma esquina / Uma alegria
Atenção, menina / Você vem / Quantos anos você tem?
Atenção / Precisa ter olhos firmes / Pra este sol /
Para esta escuridão
Atenção / Tudo é perigoso / Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte
Atenção/ Para a estrofe, para o refrão
Pro palavrão / Para a palavra de ordem
Atenção / Para o samba exaltação
Atenção / Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso / Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte
Atenção / Para as janelas no alto
Atenção / Ao pisar no asfalto mangue
Atenção / Para o sangue sobre o chão
É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte
Atenção / Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso / Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte
Divino maravilhoso é uma canção que nos mostra o quanto o movimento sofria sérias represálias. A ditadura estava em seu auge, e todos deveriam ter a atenção na hora de se expressar, pois qualquer expressão poderia ser motivo de prisão, exílio ou extermínio.
Com isso a letra diz em sua primeira estrofe: “Atenção /Ao dobrar uma esquina / Uma alegria / Atenção, menina / Você vem / Quantos anos você tem?
Atenção / Precisa ter olhos firmes / Pra este sol / Para esta escuridão”
Já em sua terceira estrofe, temos uma forte metáfora nos dizendo o quanto tudo é maravilhoso, aos olhos governamentais da época, já que tudo que era divulgado, toda expressão era controlada e monopolizada perante o que o governo queria. Por isso a citação de que tudo era perigoso, pois se alguém saísse fora da linha determinada pela ditadura, sofreriam sérias conseqüências. “Atenção /Tudo é perigoso /Tudo é divino maravilhoso / Atenção para o refrão”
Em sua quarta estrofe, podemos dizer que os compositores pediam para que aqueles que eram contra todo essa ação governamentalista e militarista, ficassem fortes e firmes, para não temerem as conseqüências e assim ir contra todas as represálias e direcionamentos dados pela ditadura.
É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte / É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte.
E assim segue a canção, explicitando que tudo é “Divino e Maravilhoso” aos olhos dos governantes e militares, resultado da “limpa” que os mesmo faziam dia após dia no país - pois até a música brasileira estava presa nas garras militantes-, para que tudo ficasse dentro de padrões ditados para os cidadãos da época. Com avisos de cuidados, mas também com motivação para serem fortes e não deixarem com que a ditadura os guiassem, para que as expressões não sejam escondidas e que não temessem as conseqüências, na esperança da mudança.
A música então tornou-se um programa televisivo, de mesmo nome, comandado por Gil e Caetano, semanalmente. O programa acabou gerando manifestações de repúdio da ala mais conservadora e careta da sociedade. Pais de família escreviam cartas cheias de ira para a direção do programa e políticos de cidadezinhas do interior se revoltaram com o que chamaram de “agressões”.
O “Divino, Maravilhoso”, acontecia todas as segundas-feiras, ao vivo, tinha auditório livre para o público e cenário mutante. Eles receberam nos programas convidados, como Mutantes, Tom Zé, Torquato Neto, Nara Leão, Juca Chaves e Paulinho da Viola, entre outros.
Programa Divino e maravilhoso (Imagem: Internet)
Bibliografia:
Site: Entulho
Site: Tropicalia
Thamires, boa pesquisa só fique atenta ao retirar todo o conteúdo de uma fonte só. Por exemplo, na 2a linha do 2o parágrafo há a seguinte afirmação "poesias reacionárias" da tropicália. Será que é isso mesmo?
ResponderExcluirPois é, Thamires. Sobre o que Alexandra diz, o problema é que o termo "reacionário" é usado para designar pessoas que reagem a uma investida revolucionária. Nesse caso, a poesia da tropicália não pode ser designada de reacionária.
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